ht6 março 2011
LOCKHEED MARTIN SR-71 BLACKBIRD. O incrível pássaro negro da USAF
DESCRIÇÃO
Novamente trago para as paginas deste blog um sistema militar que fez história. Recentemente, publiquei um artigo sobre o caça Grumman F-14 Tomcat, um dos melhores interceptadores já construídos na história da guerra aérea. Desta vez, a aeronave que será foco deste artigo será o mais rápido avião já construído em série na história. O avião de reconhecimento estratégico Lockheed Martin SR-71 Blackbird é o resultado de uma façanha sem precedentes na história aeronáutica pelo grau de sofisticação empregado em sua construção, em uma época em que a tecnologia tinha muitas restrições e que ainda, durante o processo de desenvolvimento, e fase inicial de uso, sua existência, simplesmente era desconhecida do publico, devido ao elevado nível de “segredo” do projeto.
Acima: O U-2, ainda em uso, atualmente, entrou em serviço nos anos 50 e representou uma vantagem, momentânea, para a CIA e USAF, pois voava tão alto que nenhum caça ou míssil antiaéreo conseguia intercepta-lo. melhorias no sistema de defesa russo obrigaram aos Estados Unidos a projetar uma aeronave que fizesse que apenas voar muito alto.
A necessidade de se produzir o Blackbird começou no fim da década de 50, logo com a entrada em serviço do jato espião Lockheed Martin U-2, que na época era a aeronave que voava em maior altitude já construída, justamente com o objetivo de conseguir voar sobre território soviético sem ser molestado por aeronaves interceptadores ou mísseis antiaéreos. A inteligência norte americana já dava conta do desenvolvimento de novos mísseis antiaéreos dos soviéticos que seriam capazes de destruir o U-2 na iminência de entrarem em serviço. Isso levou o departamento de defesa e a CIA (Central Intelligence Agency) solicitarem às empresas aeronáuticas norte americanas que propusessem projetos de uma aeronave que além de voar a mais de 24000 metros de altitude, como o U-2, também fosse capaz de voar a velocidades acima de mach 3 (3200 km/h), para poder ficar imune a qualquer sistema de mísseis antiaéreos e interceptadores disponíveis ou em vias de entrar em operação naquela época. Duas empresas foram escolhidas para detalhar melhor suas propostas, a Convair e a Lockheed Martin.
Acima: O sistema de defesa antiaéreo soviético, com seu míssil S-75 Dvina (SA-2 Guideline) conseguiu derrubar o avião espião U-2 da força aérea dos estados Unidos e fez seu piloto, Francis Gary Powers, prisioneiro por espionagem. Desde então, ficou claro a necessidade de uma nova aeronave que superasse a defesa antiaérea soviética.
A Convair apresentou uma proposta de um super avião que foi batizado de “Kingfish”. O desenho deste modelo surpreende pelo fato de que, em 1959, jpa mostrava traços para redução de seu eco radar através da diminuição de seu RCS (tamanho aparente ao radar), muito parecidos com que se veria 30 anos depois nos jatos F-117 Nighthawk, o primeiro avião de combate stealth (furtivo) da história da Lockheed Martin. O Kingfish seria capaz de voar a uma velocidade máxima de mach 3,2 (3500 km/h) e teria um alcance de translado de 6200 km.
Acima: Acima um desenho do Convair Kingfish deixa bem claro o quanto suas formas foram revolucionárias para aquela época.
A Lockheed Martin, através de seu escritório de projetos secretos “Skunk Works” e seu engenheiro Kelly Johnson, um gênio da engenharia aeronáutica, apresentou o A-11, uma aeronave com desenho mais convencional, com asas em delta e dois motores Pratt & Whitney J-58-1 sob as asas, e que produziam 14400 kg de empuxo com pós-combustor. Esse motor era um dos mais potentes motores aeronáuticos já construídos até aquela época. O J-58 foi o motor escolhido, também, pela Convair para equipar o seu Kingfish. O A-11, também era capaz de voar a velocidade de mach 3,2 e sua autonomia, menor que a do Kingfish, chegaria a 3700 km.
Acima: A proposta original da Lockheed Martin, o A-11, tinha formas bem mais convencionais. A necessidade de melhorar as características de furtividade e desempenho de vôo, levaram ao A-12, um desenho mais próximo do Blackbird definitivo.
A Lockheed Martim foi declarada vencedora desta concorrência em agosto de 1959 e ganhou um contrato para desenvolver seu projeto. A Lockheed Martin se dispôs a diminuir o RCS de seu projeto A-11, dando origem a um novo modelo, chamado A-12. Quase 3 anos depois, o A-12 fez seu primeiro vôo em abril de 1962, dando início a uma nova fase na história da aviação. Este primeiro vôo foi feito com o A-12 estando equipado com um motor diferente do qual ele havia sido projetado, o J-75, devido a problemas de atrasos no desenvolvimento do J-58 pela Pratt & Whitney.
Acima: O A-12, embora consideravelmente diferente do modelo A-11, que a Lockheed Martin propôs inicialmente, já trazia muitos traços que se tornaram definitivos na família Blackbird.
Como dito no início deste artigo, o A-12 foi projetado para ser um avião de reconhecimento com elevada velocidade supersônica e capacidade de vôos em altíssimas altitudes. Porém, mesmo assim, foi proposta uma versão armada do A-12 que pudesse ser usada contra bombardeiros soviéticos. Esta nova versão recebeu um segundo assento para ser ocupado por um oficial de armamentos, deixando a o piloto com a exclusiva função de navegação. O novo modelo foi chamado de YF-12, e foi equipado com um radar AN/ ASG-18 com um alcance que chegava a 480 km, sendo o primeiro radar pulse Doppler norte americano. Na parte ventral da fuselagem foram instalados dois compartimentos em tandem, em cada lado da fuselagem, para transportar 4 mísseis AIM-47 Falcon, guiados por radar semi-ativo e com alcance de 170 km.
O YF-12 não seguiu para a linha de produção por ser absurdamente caro para a época e dos 3 únicos exemplares construídos, dois sobreviveram, sendo um mandado para o museu da força aérea americana em Wright- Patterson em Ohio enquanto o outro sobrevivente foi transformado em SR-71 para cobrir a perda de um destes modelos.
Acima: Nesta foto, fica claro a diferença do YF-12A (foto) dos outros modelos do Blackbird. O "nariz" do YF-12A é ocupado por um radar AN/ ASG-18, melhor visto na foto a baixo. Este radar foi o primeiro radar pulso doppler norte americano.
E já que mencionei, o SR-71 apareceu, depois que o A-12, uma aeronave de reconhecimento, precisou receber modificações para poder executar sua tarefa a distancia das aéreas que seria necessária serem “espionadas”. O A-12 precisou receber câmeras e sensores com capacidade de serem apontados para os lados e assim fazer a coleta de dados a longuíssimas distancias, sem a necessidade de sobrevoar o alvo. Isso foi importante, pois os Estados Unidos tinham um acordo acertado com os soviéticos para a liberação de seu piloto Francis Gary Powers, derrubado com seu U-2 em 1960 enquanto espionava uma base em território soviético. No acordo, não poderia haver mais vôos tripulados sobre território soviético e norte americano, obrigando os Estados Unidos a desenvolverem novas formas de espionagem. Outras modificações ficaram por conta do aumento da quantidade de combustível interno, necessários para vôos de longo alcance, um nariz de maiores dimensões para poder acomodar um novo radar SLAR (Side Looking Airborne radar) de abertura sintética, que faz o mapeamento do solo, produzindo imagens do alvo, mesmo sobre grossas camadas de nuvens. Foi instalado, também, um sistema de reabastecimento em vôo. Este novo “A-12”, foi batizado de SR-71 Blackbird.
Acima: O SR-71 Blackbird teve o seu nariz aumentado para acomodar a suite de sensores para reconhecimento estratégico a distancia.
O Blackbird é uma super maquina, sob qualquer ponto de vista. Sua velocidade máxima chega mach 3,5 (3704 km/h) (fonte: Lockheed Martin), simplesmente o mais rápido avião a entrar em serviço na história, até hoje, e sua autonomia era de 5370 km, sem reabastecimento (Fonte: Lockheed Martin), portanto, bem melhor do que conseguia o Kingfish da Convair.
Para conseguir voar com todo esse desempenho, sem desmanchar, 93% da fuselagem do Blackbird foi construído em titânio, um dos responsáveis pelo “salgado” preço de cada exemplar. O vôo em elevadas velocidades esquentava a fuselagem do Blackbird, por causa da fricção com o ar, levando a temperatura das estruturas do avião a 320ºC. Seu desenho achatado, além de ter uma função aerodinâmica que melhora a qualidade do vôo em altíssimas velocidades, tem objetivo de diminuir o reflexo das ondas de radar. O SR-71 Blackbird pode ser considerado como o primeiro avião, com algumas soluções com objetivo de diminuir seu reflexo radar a entrar em serviço, embora ele não fosse stealth. Mesmo sua cor escura é conseqüência de uma tinta especial que além de dissipar o calor, ainda absorve as ondas de radar inimigas. Outro item, do qual o Blackbird pode ser considerado pioneiro, foi no uso de um sistema computadorizado de vôo (FBW), para lhe garantir sua estabilidade quando em velocidades supersônicas altas.
Acima: Um Blackbird decola para mais uma missão de reconhecimento. O elevadíssimo custo de operar estas complexas aeronaves levaram a sua desativação em 1998.
O poderoso turbojato Pratt & Whitney J-58-1 com 14400 kgf de potência, dava ao Blackbird uma relação empuxo peso de apenas 0,44, sendo que a aerodinâmica, e as características de funcionamento deste turbojato é quem permitia ao pássaro negro, o desempenho absolutamente fantástico que ele conseguia. O cone na entrada de ar dos motores é movimentado, automaticamente, para frente, ou para traz, para melhorar o fluxo de ar para o turbojato J-58, porém, este procedimento podia ser feito manualmente, pelo piloto.
Existem casos em que um míssil S-75 Dvina (SA-2 Guideline), lançado contra o Blackbird, se aproxima até o combustível do míssil acabar, pois ele não consegue atingir o seu alvo, que, simplesmente, acelera!!!!
Acima: Os potentes motores J-58 eram tão revolucionários como o próprio avião que ele impulsionava. mesmo com toda sua potência, a relação empuxo peso do Blackbird era baixa para os padrões atuais.
O Blackbird, assim como o YF-12, tinha um segundo tripulante, um oficial de sistemas, que, no caso do Blackbird, tinha a função de administrar a operação dos diversos sensores e câmeras do avião em missões de reconhecimento. O oficial de sistemas tinha em suas mão uma suíte de equipamentos compostos por câmeras TEOC com lentes de 152 mm, de altíssima resolução e que davam cobertura de 45º para cada lado da fuselagem, para fotografar a grandes distancias, assim como o radar SLAR e o radar ASARS-1 que o substituiu na fase final da vida operacional do Blackbird. Outros sistemas para missão ELINT (inteligência eletrônica) gravavam dados relacionados a recepção de ondas eletromagnéticas emitidas por radares hostis para poderem classifica-los, posteriormente pela inteligência norte americana.
Acima: Reparem no uniforme de vôo dos pilotos do Backbird. Devido ao vôo em altas altitudes, era necessário roupas especiais como de astronautas.
Ao todo, 30 SR-71 Blackbirds foram construídos e foram usados de 1966 até 1998. Oficialmente, os Blackbirds teriam sido substituídos por satélites espiões e aeronaves sem piloto (UAVs) como o RQ-4A Global Hawk. Existe uma lenda a respeito de uma aeronave com desempenho superior ao Blackbird que teria substituído ele. Conhecido como Aurora, e já descrito nesse blog, esta história continua sendo ficção cientifica uma vez que não há provas da existência de tal avião, além da negação por parte das autoridades norte americanas a este respeito. Independente disso, o fato é que o Lockheed Martin SR-71 Blackbird foi um feito inacreditável pela sua complexidade e capacidade de desempenho, em uma época com poucos recursos tecnológicos, sendo que, mesmo hoje, quase 50 anos depois do primeiro vôo do Blackbird, ainda não há uma aeronave em serviço mais rápida que ele, ou que voe em altitudes maiores.
Acima: O desenho exótico do Blackbird, somado a sua cor negra, o tornavam uma aeronave quase mística. Sem a menor duvida o Blackbird pode ser considerado como uma das mais incríveis maquinas já criadas pelo homem.
Acima: Diferente do aspecto futurístico de sua fuselagem, o painel de controle do Blackbird não esconde sua idade.
FICHA TÉCNICA
Missão: Reconhecimento estratégico.
Velocidade máxima: mach 3,5 (3704 km/h).
Velocidade de cruzeiro: mach 3 (3200 km/h).
Relação empuxo peso: 0,44.
Razão de subida: 3613 m/ min.
Peso: 30600 kg (vazio) 78000 kg (totalmente carregado).
Alcance: 5370 km.
Altitude: 30000 metros
Propulsão: dois motores Pratt & Whitney J-58-1 com 14400 kgf de potência com pós combustor.
Altura: 5,64 m.
Envergadura: 16,94 m.
Comprimento: 32,74 m
Acima: O Blackbird decolava com seus tanques de combustível quase vazios e ele era reabastecido em vôo logo depois da decolagem. Com o reabastecimento aéreo, o Blackbird podia voar muito além dos seus 5370 km de autonomia originais.
Acima: Um desenho em três vistas do SR-71 Blackbird.
ABAIXO PODEMO VER UM VÍDEO COM CENAS DO SR-71 BLACKBIRD.
Fontes: Lockheed Martin; Enciclopédia Asas de Guerra nº 1
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